Antônio Menrod, pós-doutorado em
Educação, Arte e História da Cultura.
“Toda a guerra é
rendição às forças do mal”. Assim pronunciou-se o Papa Francisco ao comentar a
invasão de tropas russas na Ucrânia. Nesta modernidade do século XXI, os crimes
de guerra são transmitidos ao vivo pela internet, causando-nos uma perplexidade
dilacerante com a exibição de imagens de um bombardeio atingindo a cidade de
Kiev, capital da Ucrânia, atacada deliberadamente por soldados russos. A
luminosidade do bombardeio fez com que a madrugada da invasão russa tivesse uma
claridade como se o dia já estivesse amanhecido com a luz do sol em Kiev.
Em Provérbios,
16:32 está descrito: “Melhor é o homem paciente do que o guerreiro, mais vale
controlar o seu espírito do que conquistar uma cidade”. No bojo da guerra entre
Rússia e Ucrânia há um projeto desenfreado de poder, autoritarismo, ambição e
arrogância do presidente da Rússia, Vladimir Putin. Em nome de um fisiologismo
e mediocridade destrói vidas, sonhos de homens, mulheres e crianças.
“Onde impera o
poder aí não há lugar para a ternura nem para o amor", escreveu Carl
Gustav Jung. A impulsividade nos conduz a erros gravíssimos. A boa observância
sempre, a capacidade de reflexão é uma das melhores bênçãos que temos. Contudo,
em uma guerra, a primeira prioridade é colocar de lado o amor ao próximo em
detrimento de projetos pessoais. Saltam aos Olhos interesses próprios quando o
assunto é PODER. Uma guerra é sempre um fracasso humanitário. Assistir às cenas
dos refugiados ucranianos, resilientes a todo custo, tentando chegar à Polônia,
Moldávia, Romênia e Hungria, nos lança apavoramento, medo e trauma.
“Ainda vai levar
um tempo
Pra fechar que
feriu por dentro...”
Já diz o excerto
da letra da música de Lulu Santos: “Assim caminha a humanidade”.
Em indagações
entre Einstein e Freud: “Por que há guerra?”, há relatos de que assim definiu
Sigmund Freud: “A guerra se constitui na mais óbvia oposição à atitude psíquica
que nos foi incutida pelo processo de civilização e, por esse motivo não
podemos evitar de nos rebelar contra ela; simplesmente não podemos mais nos
conformar com ela. Isto não é apenas um repúdio intelectual e emocional; nós,
os pacifistas, temos uma intolerância constitucional à guerra e, digamos, uma
idiossincrasia exacerbada no mais alto grau”.
Infelizmente, não
há como sanar questões de guerra em definitivo. É como se fizesse parte
diuturnamente do ser humano; ameaça-o sempiternamente. Por isso que é de
suma importância buscar a paz como missão a ser cumprida todos os dias em nós.
O poeta Tcheco,
Rainer Maria Rilke, escreveu:
“E, no entanto,
embora cada um tente fugir de si mesmo como de uma prisão que o enclausura em
seu ódio, faz parte do mundo um grande milagre. Eu sinto: toda vida é vivida”.
Eis aqui uma ressonância que se abre para encontramos a paz das guerras
internas do eu. Equacionando conflitos com o próprio eu em reparação e expiação
não haveria atos bélicos.
Dom Mauro Morelli,
primeiro bispo da Diocese de Duque de Caxias, hoje emérito, que realizou um
pastoreio repleto de missionariedade e dedicação de amor ao próximo, certa
feita disse: “A desgraça do mundo é a Dona Riqueza cuja filha primogênita é a
Miséria. Pobreza é vida frugal, não falta nada para viver com saúde e
dignidade, sem acúmulo e sem desperdício, repartindo o que somos e temos!”. A
fome também é geradora de guerra.
Não há dúvidas que
o ressentimento destrói a inteligência, a capacidade de reflexão e o senso
crítico. Indubitavelmente, falta dissentimento naqueles que provocam a guerra.
O maior teólogo brasileiro vivo, Professor Dr. Leonardo Boff, como de praxe,
apresentou sua análise precisa e inteligente: “Não há guerra santa, nem justa,
nem justificável, porque toda guerra mata, especialmente, inocentes. Ela é um
mal absoluto e vai contra o mandamento: “Não matarás!”, Mateus, 5:21. E também
é contra o sentido da vida que é sempre desejar viver, desejar até uma vida
eterna. Esse mal está ocorrendo na Ucrânia”.
Precisamos de uma
mudança interna, no coração. Rogo que Jesus Cristo, a Luz do Mundo, nos conduza
em nossa transformação e na busca pela paz. Dom Hélder Câmara dizia: “A única
guerra legítima é aquela que se declara contra a miséria e a ignorância”.
Ao ver a imagem
dos refugiados da Ucrânia, aos montes, fugindo da guerra descabida, lembrei-me
do poeta alemão Yehuda Amichai, que com a família emigrou para Palestina em
razão do antissemitismo. Ele escreveu o estonteante poema intitulado “Deus
cheio de misericórdia”:
Deus cheio de
misericórdia
Se não fosse por
Deus ser cheio de misericórdia
Haveria
misericórdia no mundo, não só nele.
Eu, que colhi
flores nas montanhas contemplando os vales.
Eu, que carreguei
corpos morro abaixo,
Posso lhes dizer
que o mundo não é vazio de misericórdia.
Finalizo esta
minha reflexão como comecei, com uma fala do Papa Francisco: “Que se calem as
armas. Deus está do lado dos artesãos da paz, não com os que usam a violência”.
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