(Núbia Marques, escritora brasileira)
[Atualizado em 22 de ago. de 2023]
Por: Allan de Oliveira.
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Núbia Nascimento
Marques nasceu em Aracaju na Rua de Geru em 21 de dezembro de 1927. Filha do
senhor Atílio Marques e de Dona Bernardina Rosa do Nascimento Marques. Estudou
no Jardim de Infância Augusto Maynard Gomes, fazendo depois o Curso Primário no
Educandário Menino Jesus e, posteriormente, estudando o Ginásio no Atheneu
Sergipense e, Contabilidade na Escola de Comércio Conselheiro Orlando.
Núbia
Marques já escrevia poesia desde a idade de 14 anos e ela teve grande
influência de escritores como Augusto Frederico Shimidt,
Clarice Lispector e Graciliano Ramos.
Ao completar
vinte anos de idade, ela se mudou para o Rio de Janeiro, fazendo por lá o Curso
de Belas Artes, trabalhando na Revista Seleções de Reader’s Digest.
No ano de
1948, quando estava no Rio de Janeiro, frequentou a Sociedade Brasileira de Artes
Plásticas porque além de poeta e romancista, ela também cultivou do
desenho e da pintura.
Quando Núbia
Marques retornou a Aracaju, e isso se deu nos anos 50, ela já estava casada,
passando a fazer o Curso Superior na área de Serviço Social. Posteriormente,
ela fora aprovada em concurso do Estado, passando a lecionar como professora de
Literatura
Brasileira e Portuguesa. Depois ela teve de se mudar para Salvador e lá
exerceu a função de assistente social e ensinando também nessa área. Anos depois,
a escritora cursou Mestrado na PUC-SP.
Em 1978,
quando Núbia Marques já estava morando em Sergipe, ela já ensinava na Universidade
Federal de Sergipe (UFS), e passou a ocupar a cadeira de número 34 na Academia
Sergipana de Letras, sendo a primeira mulher a fazer parte dessa
instituição de cunho literário.
Núbia
Marques considerava a arte de escrever poesia como um vício e, com
simplicidade, seus versos eram considerados para ela como fracos e desprovidos
conteúdos de conteúdos relevantes.
Foi uma
escritora que demonstrava certa rebeldia e espírito lutador. Uma ativista
política atuante em comunidades que lutou em prol dos direitos das mulheres e
da igualdade entre os gêneros, bem como participante do movimento das “Diretas
Já” que ocorreu no ano de 1985 defendendo a anistia em Sergipe durante
o Regime
Militar no Brasil.
Núbia
Marques faleceu em 26 de agosto de 1999, vítima de infarto culminante após sair
do banho. Seu velório fora realizado no dia seguinte na Academia Sergipana de Letras.
Devido à sua
grande importância há em Aracaju uma escola que leva o seu nome.
OBRAS¹
_______________________________
¹
Além destas obras houve também participações da autora em várias antologias.
Poesias:
* Um ponto e duas divergentes (1959)
* Dimensões poéticas (1961)
* Baladas do Inútil silêncio (1965) – [Com
Gizelda Morais e Carmelita]
* Máquinas e Lírios (1971)
* Geometria do Abandono (1975)
* Verdeoutuno (1982)
* Todo Caminho é um Enigma (1989)
* Poemas Transatlânticos (1997)
Contos:
* Dente na Pele (1986) – [Também foi
traduzido para o holandês]
Crônicas:
* Sinuosas em Carne e Osso (1962) – [Escrevia
para jornais e emissoras de rádio locais]
Folclore:
* Pesquisa de Fatos Folclóricos I. Volume II –
contos infantis (1973)
* Aspectos do Folclore em Sergipe [coordenação
e texto] – (1996)
* O Luso, o Lúdico e o Perene (lançamento
póstumo) – (1999)
Ensaios e estudos:
* João Ribeiro Poeta (1983) – [trabalho
premiado]
* A Presença de Fernando Pessoa (1986)
* Hegemonia Cultural na Escola (1987)
* João Ribeiro sempre (1996)
* Caminhos e Atalhos (1997) [Álbum
histórico]
* Do Campo à Metrópole – grupo G. Barbosa (1999)
[Obra Póstuma]
Romances:
* Gráfica Tietê (1967)
* Berço de Angústia (1980)
* O Passo de Estefânia (1980) – [Com edições
traduzidas para o alemão]
* O Sonho e a Sina (1992)
Verbetes:
* Dicionário Bibliográfico de Escritores
Brasileiros Contemporâneos - Adrião Neto. (1998)
* Dicionário de Mulheres - Hilda A. Hubner
Flores. (1999)
* Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras,
Nelly Novaes Coelho. (2001)
NECROSE
Morri tantas
vezes em ti
que nem me
apercebi da necrose
os túmulos
de flores insepultas
eram risos
da infância dilacerada
trêmulos
risos girassóis outonais.
Morri tantas
veze em ti
que nem
percebi a necrose
a noite que
sempre precede ao nada
tinhas as
calcinhas expressões do desamparo
e a única
árvore abrigo
era a
despedida árvore inatingível
Morri tantas
vezes em ti
que nem
percebi a necrose
os ventos
que embalavam os cemitérios
nem tinham o
balanço de brisas silenciosas
nem eram a
ventania alucinada
mas os
ventos lentos que ninam a morte.
Morri tantas
vezes em ti
que nem
percebi a necrose
e a
desvairada busca do amor
era o
réquiem eterno do desencontro.
Fé no Ofício
não sou poeta
do parecer
do carimbo
da hora
certa
do relógio
de ponto
dos trâmites
legais
dos acordos
dos aceros
das mornas
convivências
poeta
oficial
Poeta tem
que ser
o passo
avesso
o grito
o protesto
o pulso o
murro
o monte o
traste
a palavra
maldita
o desacerto
na próxima tocais
Sou poeta
que faço
do laço o
traço
do cuspe o
rastro
do passo o
arregaço
do sobejo o
farelo
do travo o
trevo
do amargo
viver
d cada
instante
sou poeta
mais nada.
DESTINO
Tenho nos
pés mil andadas
initerruptas
malfadadas
tão sem glória
quase sem
metas
Tenho o rumo
nos pés
malsinados
andando nem
sei pra que sóis
andadas
desritmadas
quase presas
de abandono e solidão
Nos meus pés
dorme
um rumo
indeterminado
que se esvai
em cada pedra
em cada
estrada
Tenho nos
pés
um rumo
indeterminado
que se esvai
em cada pedra
em cada
estrada
Tenho nos
pés um rumo insuspeito
milenar
antes das minhas engatinhadas
os seixos
o sargaço
as marisias
são trilhas
esparramadas e solícitas
Meus pés
nasceram pra buscar auroras
sem
eletricidade sincronizada
mas colhendo
a pálida luz da manhã
depois de
uma jornada silenciosa
pisando as
terras sem asfalto
mas a quente
argila
que me vai
tornar pó.
INCONSEQUÊNCIA
fizeram de
mim
simum de
auroras
depois
perguntaram-me cinicamente
porque
diante de tanta luz
tens a noite
aninhada no peito
fizeram de
mim
pastora que
arrebata luz
depois
perguntaram-me cinicamente
porque
choras diante do caos de estrelas
fizeram de
mim criança que nina bonecas
depois
perguntaram-me cinicamente
mulher, onde
estão os machos de tua conquista
fizeram de
mim
tecelã de
sonhos
depois
perguntaram-me cinicamente
que fazes
neste tear sonâmbulo
fizeram de
mim
a guardiã da
liberdade
com armas de
matéria plástica
depois
perguntaram cinicamente
porque não
defendes os oprimidos
vão todos
pra merda
seus filhos
da puta
INCOMESURÁVEL
Entre uma
palavra e outra há um abismo
e para as
grandes decisões múltiplas formas.
Toda palavra
que pronuncia tem mil sentidos
e para as
justificativas inúmeras expressões.
Se não
fossem as dimensões tão relativas
se a palavra
do homem tivesse lúcida forma
a impunidade
dos caminhos da Ainda Cury
não seriam
manchetes nos jornais
Vamos
liquidar as cartilhas de ABC
Procuremos a
linguagem do amor irredutível
Criemos a
palavra dimensional
Ponderável
Precisa
Exata
Indiscutível
Verdadeira
Telepática
Poética.
I N Ú T I L
tudo
neste amor
enraizado
me é
necessário
o passo
vadio
o beijo
no
estuário das minhas lembranças
o
sorriso a distância
o ódio
submisso
quase
esquecido
o
sofrimento contínuo
na
lágrima cristalizada
que
deserta dos meus olhos hoje
deita
fios longos
tece o
caminho
desnecessário
da saudade
o
quanto pode
a dor e
o silêncio
cravados
em mim como espinhos.
REFERÊNCIAS:
Academia Literária da Vida: Núbia Nascimento Marques. Disponível em: <http://academialiterariadevida.blogspot.com.br/p/9-nubia-nascimento-marques.html>. Acesso em: 09 de set. de 2013.
Casa Abrigo Professora Núbia Marques – Quem foi Professora Núbia Marques?. Disponível em: <http://abrigonubia.blogspot.com.br/2010/08/quem-foi-professora-nubia-marques.html>. Acesso em: 09 de set. de 2013.