HERMES FONTES: “A genialidade em pessoa”


(Hermes Fontes, escritor sergipano)

 

Por: Allan de Oliveira.

contatoallandeoliveira@gmail.com

 

Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes nasceu no município de Boquim (SE) a 28 de agosto de 1888, sendo filho de camponeses pobres. Com a idade de cinco anos perdera a mãe, fato esse que causou forte influência em alguns dos poemas do nobre poeta. Seus estudos começaram em Boquim e depois em Aracaju. Nesse tempo em que ele estivera em Aracaju, por sorte, o governador da província, Dr. Martinho Garcez, percebera a genialidade do garoto e resolvera financiar seus estudos no Rio de Janeiro quando se mudou para lá, levando o rapaz consigo no ano de 1898. Posteriormente, em 1908, Hermes Fontes fizera um concurso dos Correios e se classificou em 1º lugar. A partir daí, ele resolveu seguir o seu caminho e se “virar sozinho”, indo morar num pensionato. É nesse momento também que ele passou a estudar na Faculdade Nacional de Direito (UFRJ), época que conheceu grandes ícones da literatura brasileira. 

“A publicação de suas primeiras obras trouxeram-lhe imediata consagração e Hermes Fontes transforma-se em celebridade nacional. O seu prestígio percorre o país de norte a sul. Em 1917, um grupo de intelectuais pernambucanos convida-o a visitar Recife, onde é recebido como gênio poético da nova geração. É homenageado também em Minas Gerais. Apesar do reconhecimento nacional, era um homem infeliz, introvertido e de trato difícil”. (ALMEIDA, p. 10) 

A sua obra contém influências parnasianas, simbolistas e modernistas, e seu grande livro é considerado Apoteoses (1908), obra que causou grande repercussão, sendo considerada uma das mais importantes da literatura brasileira. 

Quanto a vida amorosa de Hermes Fontes, pelo que se sabe é que ele não teve muita sorte por ter sido rejeitado pelas mulheres por conta da sua aparência raquítica, sofrer gagueira e surdez, e ter a cabeça avantajada. Porém, esse gênio sergipano acabou se casando com uma das filhas da proprietária da pensão em que morava, e a mulher que se tornou a sua esposa chegou a ficar grávida, mas a criança não nasceu. 

Anos depois Hermes Fontes descobrira que a esposa o traíra. Esse problema se unira a outros que surgiram pela frente acarretando no suicídio de Hermes Fontes em 26 de dezembro de 1930 com um tiro na cabeça.


ASSISTA ABAIXO A UM VÍDEO SOBRE HERMES FONTES: 


Bibliografia do autor¹:

 * Apoteoses (1908)

 * Gênese (1913)

* Ciclo da Perfeição (1914)

* Mundo em Chamas (1914) [Didático]

* Miragem do Deserto (1917)

* Microcosmo (1919)

* A Lâmpada Velada (1922)

* A Fonte da Mata... (1930).

 

EXORTAÇÃO (Apoteose da Luz)

 

Luz, espelho do Gênio e altar das maravilhas!

Espírito dos céus, -que jamais, luz, se esgote

A harmonia estelar cujas cordas dedilhas,

Luz, poetisa do Azul, de que sou sacerdote!

 

Numa constelação ou num trêmulo archote,

És sempre a luz e, luz eternamente brilhas...

De estrelas brota o céu, se lhe ordenas que brote

E abrem-se em rios de ouro as tuas áureas trilhas.

 

Não vibrasse o clarim solar, cantando o Dia,

O plaustro não rodasse em que passeia a Aurora,

E céu e terra, tudo ao nada voltaria!

 

Não existisses tu, nada existiria agora:

Nem, no vale, uma flor efêmera haveria,

Nem, no ar, um desses sois em cuja alma Deus mora...

 

EXORTAÇÃO (Lendas)

 

A Vida, só por si, a Vida-humana,

É uma apoteose a tudo o que contém:

Injustiça sistemática – ela irmana

O Pecado e a Virtude, o Mal e o Bem.

 

Nela, o Futuro é um arrebol que engana,

Porque, se mais atrai, mais fica além...

O Presente é esta luta – luta insana! –

E o Passado, o que foi... nunca mais vem.

 

E assim vais, Vida-humana, de onda em onda,

- amplo Oceano que escondes e desvendas

As misérias que à própria face expões...

 

E na foz do Porvir – que ninguém sonda –

Que são os rios do Passado? – Lendas...

E os do Presente, que é que são? Visões...

 

FALANDO À MINHA SOMBRA

 

Desses que andam a rir no carnaval da vida,

Talvez sejamos nós a Apatia e o Despeito:

A menos que teu mal com meus males coincida,

Intriga-me ser eu sujeito ao que és sujeito.

 

E, se temos à boca um riso contrafeito,

Temos a alma a sangrar numa grande ferida...

E irmãos em tudo, irmãos, defeito por defeito,

Crês, se creio, e descrês, se creio a fé perdida.

 

Nessa douda Babel de máscaras, a graça

É que, burlando a ação interna da Descrença,

Iludimos, cantando, a multidão que passa...

 

Entretanto, o coração no incêndio se condensa...

E abafamos-lhe o pranto, as chamas e a fumaça,

Sob a máscara fria e usual da indiferença...

 

VISÃO PESSIMISTA

 

Às vezes, volto o olhar aos íntimos vexames

E o distendo, depois, pela Existência inteira:

São tantos os sandeus, são tantos os infames,

Que a Dúvida se faz, quer queira, quer não queira.

 

Outras vezes, me diz a Fé, alvissareira,

Da Esperança atraindo os prófugos enxames:

- para teres da Paz o ramo de oliveira,

A virtude e a Razão exigem que não ames...

 

Mas renego a Razão e a Virtude renego:

Falte o Amor, faltarão, nesse momento aziago,

O som, a luz, a cor, o céu, o vale, o pego...

 

E, no entanto, eu talvez, não fora um Ser tão vago,

Talvez não carregasse as penas que carrego,

Se não trouxesse em mim o coração que trago!...

 

VISÃO DE SEMPRE

 

Em vão, a Humanidade avança, em vão progride.

Ontem... hoje... amanhã, - sempre a mesma comédia!

A vidinha da Fé, há muito, não dá vide:

Murchou, quando murchou o sol da Idade-Média.

 

De que vos serve toda a humana Enciclopédia,

Se ninguém sabe onde é que a Igualdade reside?!

Quando chega a Verdade, - a Mentira despede-a;

Quando tréguas pedis, - redobram-vos a lide...

 

A Civilização... que esplêndida pilhéria!

Fala – em nome do Amor – na justiça da História,

Fala – em nome da Fé – numa ventura... etérea!...

 

A Civilização... que madrasta irrisória!

Promete o Bem-Comum, e consente a Miséria,

- os que vivem sem pão, os que morrem sem glória...

 

SONHO MORTO

 

Amanhã, quando o Sonho em que, a rir, agonizo

Ai! De mim! For a só realidade de um sonho,

Realidade infeliz! Será, talvez, preciso

Morrer... Pois venha a Morte. É vir que eu nem me oponho!

 

Venha a morte. E, afinal, às vezes, a idealizo

No seu luto profundo, infinito e medonho.

Venha-me! E, antevisão terreal do Paraíso,

Morre Libertadora, é assim que te suponho!

 

Vós outros não sabeis o que é arder em sigilo

Por um sonho, antevê-lo, e, em pleno engano, em pleno

Sonho, ver outra mão realiza-lo, atingi-lo!

 

Nem sabeis que é melhor morrer, forte e sereno,

Do que ter de, alma em febre e rosto assim tranquilo,

Gota a gota, beber esse doce veneno...

 

A TAÇA

 

 Pouco acima daquela alvíssima coluna

que é o seu pescoço, a boca é-lhe uma taça tal

que, vendo-a, ou vendo-a, sem, na realidade, a ver,

de espaço a espaço, o céu da boca se me enfuna

de beijos — uns, sutis, em diáfano cristal

lapidados na oficina do meu Ser;

outros — hóstias ideais dos meus anseios,

e todos cheios, todos cheios

do meu infinito amor...

Taça

que encerra

por

suma graça

tudo que a terra

de bom

produz!

Boca!

o dom

possuis

de pores

louca

a minha boca!

Taça

de astros e flores,

na qual

esvoaça

meu ideal!

Taça cuja embriaguez

na via-láctea do Sonho ao céu conduz!

Que me enlouqueças mais... e, a mais e mais, me dês

o teu delírio... a tua chama... a tua luz...

 

CANÇÃO DO HOMEM FELIZ

 

O homem será feliz, quando a misericórdia

de uns socorrer a dor dos outros; socorrer

a fome, a alguns, o luto, a muitos, a discórdia

entre a angústia do que é e ânsia do que quer ser.

 

Humanidade... ré da Humanidade... Morde-a

a cobiça; envenena-a: a inveja, o mal-querer...

Mas, um dia, soarão os clarins da Concórdia,

as belezas do Ideal, nas glórias do Dever.

 

Há de a Igualdade ser a proporção perfeita

entre o Menos e o Mais, entre o Pouco e o Excessivo;

há de a Fraternidade unir Bem e Mal.

 

Liberdade no altar, no idílio e na colheita:

– Fé, Amor e trabalho – o tríplice incentivo

para a Felicidade e a Perfeição final!

 

_____________________________________

¹ A bibliografia deste autor, provavelmente, contenha mais obras.

 

 

REFERÊNCIA:

ALMEIDA, José Costa. Hermes Fontes: Antologia Poética. Aracaju. Secretaria de Estado da Cultura, 2004. 


4 Comentários

  1. Parabéns pelo Blog. Infelizmente pouco se divulga a literatura Sergipana. Cheguei aqui procurando obras de Hermes Fontes. Vou ler os outros artigos também!

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    Respostas
    1. Muito obrigado e seja muito bem vindo. O espaço é nosso, amigo.

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  2. Poema de Hermes Fontes!

    https://www.youtube.com/watch?v=9mShSTGutUI

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