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Manoel Bomfim pertence Ć
galeria dos cientistas sociais esquecidos e sua obra Ć© quase inacessĆvel ao
pĆŗblico.
Manoel Bomfim nasceu em
08 de agosto de 1868 em Aracaju – SE. Sendo filho do vaqueiro Bomfim do Carira
e de Dona Maria Joaquina. Aos dezessete anos, mudou-se para a Bahia, onde
iniciou o curso de medicina, concluindo o Curso no Rio de Janeiro no ano de
1890. Foi mĆ©dico da Secretaria de PolĆcia, tenente-cirurgiĆ£o da Brigada
Policial, subdiretor e Diretor Geral do Pedagogium (Ć³rgĆ£o que tinha o propĆ³sito
de coordenar e controlar as atividades pedagĆ³gicas do paĆs), Deputado Federal
do Estado de Sergipe, redator e secretƔrio de revistas e jornais, escritor de
livros, ministrou aulas particulares de LĆngua PortuguĆŖs, CiĆŖncias e HistĆ³ria
Natural, dedicou-se tambƩm aos estudos de psicologia, escrevendo sobre o
assunto.
No ano de 1894,
desiludiu-se com a medicina por nĆ£o ter conseguido salvar a filha. Abandonou a
medicina e se dedicou aos estudos sociolĆ³gicos e Ć educaĆ§Ć£o.
Quando exerceu o cargo de
subdiretor e, posteriormente, de diretor geral do Pedagogium, Manoel Bomfim
iniciou sua atuaĆ§Ć£o no magistĆ©rio, e se deparou com a triste realidade do
ensino pĆŗblico no Brasil. Tempos depois deixou a carreira polĆtica para se
dedicar, somente, Ć produĆ§Ć£o intelectual e literĆ”ria.
Quando se dedicou ao
magistĆ©rio e aos estudos sociolĆ³gicos, ele elevou a cultura brasileira e a sua
produĆ§Ć£o de cunho historiogrĆ”fico e sociolĆ³gico Ć© considerada como pioneira no
assunto.
Entre os anos de 1928 e
1931, o estado de saĆŗde de Manoel Bonfim se agravou, fazendo com que ele
sofresse horrivelmente. PorƩm, mesmo estando debilitado ele continuou trabalhando,
produzindo e escrevendo.
Manoel Bomfim faleceu em
1932, aos 64 anos, no Rio de Janeiro.
Suas principais obras foram: CompĆŖndio de HistĆ³ria da AmĆ©rica, A AmĆ©rica Latina: Males de Origem; e Livro de ComposiĆ§Ć£o, e Livro de Leitura. Estas duas Ćŗltimas em parceria com Olavo Bilac.
INFLUĆNCIAS RADICAIS NA OBRA DE MANOEL BOMFIM
Ronaldo Conde considera a
sua biografia como uma espƩcie de aventura em busca de uma utopia, pelo fato de
Manoel Bonfim ter sido um humanista e o seu humanismo demonstrava ter uma
origem e um destino para um compromisso social e politico, em defesa da
cidadania.
Manoel Bonfim acreditava,
dizendo-se um utopista porque, segundo ele, um utopista quer mudar o mundo
atravƩs da luta consciente e do trabalho.
Para os autores que leram
e escreveram sobre Manoel Bomfim como, Evaristo de Moraes Filho e Dante Moreira
Leite, eles afirmaram que esse sergipano estava “Ć frente do seu tempo” por nĆ£o
se ter deixado levar pelas teorias racistas da Ć©poca e por ter utilizado novos
instrumentos tais como o marxismo para analisar os males contidos nas formaƧƵes
sociais brasileiras e latino-americana.
O pensamento e a obra de
Manoel Bomfim se enquadram perfeitamente no campo intelectual do seu tempo,
diferenciando-se, como um contradiscurso, do discurso ideolĆ³gico dominante.
Vale lembrar que essa sua
forma de pensar, provavelmente, se dera por conta dele ter nascido numa Ć©poca
em que os habitantes livres da capital da provĆncia de Sergipe viviam em
condiƧƵes precƔrias, tais como, casebres de taipa, numa cidade com apenas
quatorze ruas, algumas travessas e becos e muitos terrenos baldios, repletos de
cajueiros.
A verdade Ć© que Aracaju
tinha sido fundada sobre um imenso brejal, o que significava pƩssimas condiƧƵes
de salubridade, insetos, surtos de cĆ³lera, varĆola, febre amarela, tuberculose
e malĆ”ria. Trata-se de uma Ć©poca que diz respeito Ć segunda metade do sĆ©culo
XIX, em que a provĆncia de Sergipe possuĆa cerca de oitocentos engenhos o que
mostra uma poderosa hegemonia canavieira e oligƔrquica.
Durante a BellĆ© Ćpoque
Carioca, Ć©poca da fundaĆ§Ć£o da Academia Brasileira de Letras em 1897, Manoel
Bomfim nĆ£o aceitou fazer parte da lista dos quarenta primeiros imortais. A
verdade Ć© que a fundaĆ§Ć£o da Academia assinalava um momento importante do
processo de consolidaĆ§Ć£o do campo intelectual brasileiro, havendo um grande
valor simbĆ³lico, separando os acadĆŖmicos dos nĆ£o-acadĆŖmicos, fertilizando a
formaĆ§Ć£o de uma hierarquia dentro do campo intelectual numa sociedade que dizia
e ainda diz defender o problema da desigualdade do paĆs. Foi justamente por
esta diferenciaĆ§Ć£o que Manoel Bomfim nĆ£o aceitou o convite para se tornar um
acadĆŖmico.
Em 1899, quando Manoel
Bomfim se tornara membro efetivo do Conselho Superior de InstruĆ§Ć£o PĆŗblica do
Distrito Federal, ele escreveu o CompĆŖndio de HistĆ³ria da AmĆ©rica e ganhou um
prĆŖmio em dinheiro num concurso. A obra mostra o pensamento crĆtico do autor,
considerado a base para a escrita de A AmĆ©rica Latina: Males de Origem. Ć
considerada uma fase em que o autor cristalizou sua visĆ£o crĆtica e radical do
processo de colonizaĆ§Ć£o imposta pelas naƧƵes ibĆ©ricas do chamado Novo Mundo que
fez gerar a exploraĆ§Ć£o dos povos colonizados, o atraso cultural, sequelas
econĆ“micas e polĆticas, racismo, entre outros fatores, que Manoel Bomfim
chamava de parasitismo (roubo das riquezas naturais e escravizaĆ§Ć£o de Ćndios e
negros). AlĆ©m disso, na mesma obra, o autor faz uma forte crĆtica Ć Guerra do
Paraguai e Ć Guerra de Canudos.
Manoel Bomfim e Olavo
Bilac fizeram parceria para publicarem dois livros didƔticos, um em 1899, Livro
de ComposiĆ§Ć£o, e outro em 1901, Livro de Leitura, que foram utilizados em
escolas primƔrias.
Durante o perĆodo de 1901
a 1902, entrou em circulaĆ§Ć£o a revista A Universal, tendo como fundadores o
prĆ³prio Bomfim, e colaboradores como Olavo Bilac, Machado de Assis, entre
outros. PorĆ©m, infelizmente, ela deixou de circular por conta de prejuĆzos
financeiros.
Fora atravƩs da revista A
Universal que o pensamento sociolĆ³gico de Manoel Bomfim, amadurecera, fazendo-o
criticar o pensamento capitalista de certos indivĆduos como B. Clark e
defendendo a ideia de que o capitalismo nĆ£o poderia jamais se transformar numa
ordem fundada na igualdade.
“Repetindo Marx, Bomfim
ainda observou que, ao longo do sƩculo, a sociedade capitalista nada mais faria
que perpetuar a enorme desigualdade entre uma ´´maioria´´, Ć s custas,
naturalmente, do empobrecimento crescente dos trabalhadores”. (AGUIAR p. 242)
AtravĆ©s dessas crĆticas
de Manoel Bomfim a B. Clark, passou a surgir a rivalidade entre os dois que se
deram atravƩs de publicaƧƵes de artigos.
O pensamento crĆtico do
autor sergipano se fundamentou atravƩs do contato com as obras de Karl Marx e
dos anarquistas Proudhon, Bakunin, e Kropotkin.
Em sua obra O CompĆŖndio
da HistĆ³ria da AmĆ©rica estĆ” contido as ideias socialistas que o autor
adquirira.
Na obra A AmƩrica Latina:
Males de Origem sĆ£o notados uma visĆ£o antropolĆ³gica do autor com relaĆ§Ć£o ao
racismo cientĆfico (ideias que se proliferaram na Europa e Estados Unidos que
defendia a supremacia da raƧa ariana). E as primeiras palavras para a escrita
deste livro se deram quando ele viveu em Paris.
Ao comparar a situaĆ§Ć£o
social de outros paĆses com a do Brasil, Manoel Bomfim percebeu que sĆ³ poderia
haver melhoras no Brasil se houvesse investimentos na Ć”rea da educaĆ§Ć£o. Isso
prova que o seu pensamento era avanƧado para a Ʃpoca.
Sua obra se tornou
esquecida, nĆ£o sendo acolhida, nem reconhecida pelo pensamento social
brasileiro, desde a Ʃpoca em que ele viveu atƩ o fim da Ditadura Militar no
Brasil, e isso prova que Manoel Bomfim foi um dos maiores pensadores sociais do
paĆs.
REFERĆNCIAS:
AGUIAR, Ronaldo Conde. O
rebelde esquecido: tempo, vida e obra de Manoel Bomfim. Rio de Janeiro.
Topbooks Editora e Distribuidora de Livros LTDA, 2000.
Priori, Ćngelo; Candeloro, Vanessa
Domingos de Moraes; “A utopia de Manoel Bomfim”; Revista EspaƧo AcadĆŖmico – NĀŗ 96.
DisponĆvel em: http://www.espacoacademico.com.br/096/96esp_priori.htm; Acesso
em 10 / 01 / 13.
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¹ Trabalho apresentado pelos acadĆŖmicos, Allan TenĆ³rio Bastos de Oliveira, Edione Oliveira, GicĆ©lia Souza, GĆ©ssica Ramiro, MĆ”rcia Mendes, e Vanessa Reis, do Curso de Letras-PortuguĆŖs da Faculdade SĆ£o LuĆs de FranƧa, como requisito para avaliaĆ§Ć£o da disciplina Optativa I – HistĆ³ria da Literatura Sergipana, ministrada pelo Prof. JosĆ© Costa Almeida.
Este espaƧo Ć© excelente para que haja maior valorizaĆ§Ć£o da Cultura e Literatura do nosso Estado, pois sĆ£o figuras ilustres que fizeram e faz ( SANTO SOUZA) para a Literatura nĆ£o sĆ³ Sergipana como Brasileira. ParabĆ©ns pela iniciativa !!! :)
ResponderExcluirAh!!! Os trabalhos sĆ£o fantĆ”sticos :)
Sucesso!
Muito agradecido pelos elogios.
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