(Eu não tenho onde morar, de Algaé
Fontes)
Por: Allan de Oliveira.
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Introdução
Eu não tenho onde morar, de
Aglaé Fontes é um
Romance infanto-juvenil publicado em 1990 pela Editora Melhoramentos
para a Série Folclore e Educação da UNESCO.
O enredo do livro é baseado numa
narrativa registrada por Sílvio Romero em seu livro Estudos Sobre a Poesia Popular do Brasil
que narra o conto oral A Onça e o Bode.
Ao passo que a obra da escritora Aglaé Fontes retrata sobre a luta por moradia,
mostrando a angústia por falta disso, bem como o egoísmo, a falta de cooperação
entre os personagens, falta de capacidade para se colocar no lugar do outro, e
também uma convivência insuportável vivida por duas pessoas a ponto de gerar um
grande clima de insatisfação.
O livro é narrado em linguagem simples
e acessível a qualquer leitor, de forma bem-humorada e com o uso de variações
linguísticas típicas do Nordeste brasileiro tais como: oxente, matutar, treco,
arriar, trabalhadeira, e muitas outras variações regionais. Além de também está
presente na obra alguns ditados populares como: “Dizem que homem de barriga
vazia é pior do que boi enfezado” e “Esmola grande, cego desconfia”. Além disso,
também está presente no livro termos populares como, por exemplo, “boquinha da
noite” e “mais pra gorda do que pra magra”.
E para dar mais vida a essa obra literária a autora também registrou alguns hábitos comuns de pessoas simples como o ato de mascar fumo e o ato de colocarem em frente às casas plantas consideradas como escudos contra o mau-olhado como, por exemplo, a arruda e o comigo-ninguém-pode.
Resumo
da Obra
O livro se inicia no povoado fictício
do Timbé, provavelmente, uma referência ao povoado Timbó, situado no município
de São Cristóvão/SE.
Nesse povoado surge uma moça que sorteia
30 casas em um mutirão organizado pelo governo.
O protagonista Zé do Bode que estava
muito confiante para receber uma moradia, sentiu-se bastante envergonhado por
não ter sido sorteado. Para não servir como motivo de zombarias devido a sua
gabolice, decidiu se mudar da cidade, resolvendo embarcar no primeiro “pau-de-arara”
que surgir-se à sua frente.
Após embarcar no caminhão, Zé do Bode desce
do veículo na última parada de ônibus e ao encontrar um “pedaço de terra”,
decide construir uma casa naquele local.
No dia seguinte, Zé do Bode resolveu ir
para a mata e cortar madeira para ser iniciada a construção da sua nova morada.
Porém, acaba surgindo um empecilho. No local apareceu uma mulher chamada Maria
Onça que comprara aquele terreno para construir a própria moradia. Sendo que essa mulher surgiu sem a presença de
Zé do Bode. Com isso, enquanto Zé estava cortando lenha na mata, Maria Onça
ajudava na construção da casa e a cada momento que cada um deles retornavam ao
local eles viam a residência, aos poucos, sendo erguida. Nisso, cada um deles
passaram a se ajudarem sem saber que se ajudavam e quando viam alguma parte
construída pensavam se tratar de milagres providos de entidades santificadas
até chegar o dia em que eles acabaram se encontrando, como seria inevitável.
Uma longa discussão se iniciara entre
Zé do Bode e Maria Onça para ser resolvido quem seria o dono da casa construída
pelos dois. Maria Onça notara que aquela discussão não teria êxito, então, como
resolução, ela sugeriu residirem juntos e dividirem as tarefas. Zé do Bode não
gostou da ideia, mas acabou aceitando.
Os dois passam a dormir em quartos
separados e as tarefas, divididas. Porém, não era dividida a tarefa para ser
coletada a água de um rio. E como Zé do Bode era cabeça dura e Maria Onça,
explosiva, após certo tempo surgiram desavenças entre os dois como discussões e
indiretas, a ponto da situação se tornar insuportável.
“A
questão não chegava a uma solução amigável. Um sempre culpando o outro pela
falta de colaboração. Até que, se cada um cedesse um pouco, o problema se
resolveria”.
(ALENCAR. p. 40)
Maria Onça ordenou a Zé do Bode se
retirar da casa para residir em outro lugar. Mas, ele se recusou e, com raiva,
destruiu a horta plantada pela mulher. Esta, por sua vez, também passou a
quebrar partes da casa e a ignorância e a brutalidade dos dois resultou na
total destruição da humilde residência:
“Ainda possuídos pela raiva, os dois
assistiram à destruição total da casa, que se transformou numa grande fogueira
com as chamas, levando seus sonhos e seu trabalho...
Pela
noitinha, no lugar restava apenas um montão de barro queimado que sobrara da
taipa e brasas amortecidas pelo pó gerado pelas palhas.
A
paisagem, antes tão bonita, estava ferida.
O
rio, na sua mansa corrida, chorava magoado.
Na
estrada, duas figuras solitárias tomaram caminhos diferentes.
Até
hoje ninguém sabe pra onde foram nem se tiveram finalmente uma casa pra morar”. (ALENCAR. p. 44 e 47)
REFERÊNCIA:
ALENCAR, Aglaé D’Ávila Fontes de. Eu não tenho onde morar. 10 Ed. São Paulo. Melhoramentos. 1993.