Por: Allan de Oliveira.
contatoallandeoliveira@gmail.com
A obra-prima Rua do Siriri (1938),
de Amando Fontes se passa em Aracaju/SE e se inicia em dezembro de 1918 com as
prostitutas protagonistas (Mariana, Angelina, Esmeralda, e Tita) que
estão comentando sobre uma notícia de um jornal impresso a respeito do despejo
das prostitutas das ruas Arauá, Estância, Propriá, e Santa Luzia, ambas ruas
localizadas no Centro de Aracaju. Essas prostitutas receberam ordens de um
delegado de polícia para elas se mudarem para a Rua do Siriri, também
localizada no Centro, e residirem no trecho situado entre as ruas Laranjeiras e
Maruim.
A nota no jornal era uma ordem de
despejo da polícia porque o local passou a ser ocupado por famílias. Estas eram
famílias da classe-alta de Aracaju. É uma época onde o conservadorismo era
enorme.
As prostitutas comentam sobre as
despesas da mudança e aquelas que não tinham dinheiro carregavam os objetos até
as novas moradas.
Nos novos endereços, as mulheres
passavam por dificuldades financeiras e muitas até nem conseguiam dinheiro para
as suas necessidades mais básicas por falta de clientes, muitos desses ainda
não tinham ciência dessa mudança. Para tanto, as prostitutas passaram combinar
para se encontrar com os clientes já conhecidos e os avisarem onde estariam
residindo após a mudança, senão correriam o risco até de morrerem de fome. Por
meio desse acordo, as prostitutas passeavam à tarde à procura de clientes, e à
noite elas se postavam às janelas à espera deles.
Os clientes veteranos, geralmente, procuravam as prostitutas de sua preferência. E no meio desses clientes havia também homens casados e endinheirados que tiravam as prostitutas daquela vida e até pagavam um local para elas morarem. Como foi o caso da prostituta Angelina, com apenas três meses de prostituição conheceu um português que a levou para morar numa pensão no Rio de Janeiro.
No livro também é mencionado sobre um homem chamado
Inocêncio de Joaninha, conhecido como Gato Preto. Este foi dono de
um prostíbulo e por ele conhecer pessoas influentes, o seu bordel permaneceu no
mesmo local.
O
prostíbulo do Gato Preto era localizado entre as Ruas Arauá e Estância, sendo
um estabelecimento disfarçado de pensionato. Os quartos reservados para os
coitos eram situados aos fundos e o bordel era frequentado por todas as classes
sociais: militares, comerciantes, senhores de engenho, boêmios, estudantes,
etc. No local eram vendidas bebidas alcoólicas, havendo também música ao vivo
da qual era tocada através de piano ou flauta.
Mas,
apesar dessas mulheres usarem dos seus corpos para “ganharem a vida” por falta
de oportunidades, havia também casos de prostitutas que se apaixonavam por seus
clientes, como o caso de Tita. Esta numa noite compareceu a esse
prostíbulo do Gato Preto e lá conheceu um estudante do Colégio Atheneu
Sergipense por quem se apaixonou. Assim, os dois passaram a se encontrarem constantemente.
A partir disso, Tita passou a se reservar apenas para esse estudante, mas como
ele não poderia pagar as despesas dela, ele conseguira um emprego e o pouco que
ganhava, repassava para ela. Porém, o valor ainda não cobria as despesas de
Tita e num certo dia quando ela resolveu se prostituir para outro cliente, o
namorado dela se sentiu enciumado e a deixou. Esse rompimento gerou grande
sofrimento na rapariga.
Além
de Tita, outra personagem muito relevante é Djanira, uma
adolescente com 15 anos de idade, nascida em Estância/SE. Ela chega à casa de
Mariana acompanhada de um veterano-frequentador chamado Inocêncio. A jovem
passa a morar no quarto vago antes ocupado por Angelina.
Como
Tita era jovem e bonita ela passou a ser muito procurada. Assim, ira saindo com
vários homens, frequentava várias festas e quando estava bêbada dançava nua, no
meio do povo. Nesse ritmo desenfreado, a adolescente acabou contraindo uma
doença grave que contraia os músculos a ponto dela nem poder andar,
emagrecendo, e com o corpo coberto por feridas. Tratava-se de uma doença
desconhecida na época, mas pelo que tudo indica poderia ter sido sífilis.
Por
causa da doença, Tita passava por muitas dificuldades e as prostitutas amigas a
levam a um farmacêutico, depois a um médico, e esse outro sugeriu à jovem ser
internada em um hospital sendo internada no Hospital Santa Izabel (localizado
em Aracaju/SE). Mas, quando ela estava melhorando, resolveu fugir e a doença
piorou. Com isso, ela passou a viver no Purgatório do Cemitério (ou
Curral do Bonfim), local onde viviam os leprosos e pessoas com doenças sem
cura na época.
O
Purgatório do Cemitério era situado na Rua da Vitória (hoje Av. Carlos
Bulamarqui) no Bairro Getúlio Vargas, próximo ao Cemitério dos Cambuís (hoje
Cemitério Cruz Vermelha).
As
mulheres viventes no Purgatório do Cemitério sobreviviam de esmolas,
prostituíam-se por ninharias, ora enfrentando uma semana inteira sem nada
comer, ora apelas 1kg de farinha (no livro é mencionado litro de farinha) em
outra semana.
Djanira
estava com 16 anos quando foi para esse local. Estava pálida e esquelética, mal
podia andar, tinha manchas rosadas pelo corpo, os olhos fundos, e com aparência
mais envelhecida. Sendo que ela chega a falecer após um curto período de tempo
e o seu corpo é levado numa padiola da polícia, carregada por presos da cadeia,
provavelmente, por detentos da Segunda Delegacia Metropolitana em Aracaju/SE.
***
Também
ocorrem casos de mulheres que perdiam a honra antes de casarem. Essas eram
postas para fora de casa por familiares, como foi o caso de Nenem que
praticou um ato sexual com um primo.
O
pai da moça, um senhor de engenho muito conservador, expulsou de casa Nenem que
fora à procura de mulher cinquentona chamada de Sá Inácia.
Sá
Inácia na Rua da Vitória (hoje Carlos Bulamarqui) e segundo diziam, ela ajudava
mulheres nessas condições. Porém, Sá Inácia era, na verdade, uma alcoviteira
(mulher que tentar arranjar relacionamentos) e, como Nenem estava à procura de
algum emprego nas fábricas têxteis de Aracaju, a Sergipe Industrial e
a Têxtil.
Aproveite
para ler um resumo do livro Os Corumbas, de Amando Fontes nos
links abaixo: Parte
1 do resumo: https://bit.ly/3y4n6fN Parte
2 do resumo: https://bit.ly/3y1W34U |
Sá
Inácia consegue um cliente para Nenem. É um homem influente da cidade que, a
princípio, é recusado pela jovem. Mas, como essa não conseguira emprego nas
fábricas, a jovem acaba entrando na “jogada” de Sá Inácia para se prostituir
por essa afirma que trabalhar nas fábricas é viver uma vida explorada e passar
por condições insalubres. Assim, Nenem passa a se prostituir para esse homem
influente e também para outros. No entanto, como Nenem é muito reclusa para
qualquer um, Sá Inácia a aconselha a ir morar na Rua do Siriri e lá se
acostumar com a vida de “mulher-dama”.
E,
com isso, a jovem acaba indo residir na casa de Mariana entrando no lugar de
Djanira. Mas, o comportamento retraído de Nenem atrapalhava os seus negócios e
há até um personagem que se irrita por causa disso. Mas, ela teve a sorte de
conhecer um coronel casado que a tira da prostituição e aluga uma casa para ela
com uma doméstica para ajudá-la e lhe fazer companhia.
LEIA a 2ª PARTE do resumo do livro "Rua do
Siriri" no link abaixo:
https://literaturasergipana.blogspot.com/2022/10/rua-do-siriri-de-amando-fontes-resumo_6.html
Ajude
o blog com um PIX de Apoio, enviando para a chave PIX abaixo: daafcd62-fe24-44f0-a9ea-ecad84f14e87 |