Vida e Obra do poeta Santo Souza


(Poeta Santo Souza)

 

Por: Allan de Oliveira.

contatoallandeoliveira@gmail.com

 

José dos Santos Souza nasceu em 27 de janeiro de 1919 no município sergipano de Riachuelo. Sua mãe, Dona Hermínia, era arrumadeira, mãe solteira e descendente de escravos, dando a luz a esse ícone literário na casa dos patrões. Aos seis anos de idade, Santo Souza começou a trabalhar na área de farmácia e estudou até a 3ª série, se tornando um autodidata com um vasto conhecimento. Com a pouca instrução que tinha, mas com grande talento, escreveu pequenos versos aos 10 anos de idade e aos 15 estudou música, chegando a compor algumas valsas para a namorada. Aos 17 anos passou a residir em Aracaju.

A sua poesia é fundamentada no Orfismo, corrente que trata de temas sacros, o bem e o mal contidos na natureza humana. Através dessa corrente, percebe-se que seus versos buscam mostrar as condições humanas, as divindades e os heróis mitológicos, criando, assim, um elo entre o passado e o presente em que o poeta se torna um intérprete do futuro. Valendo ressaltar que no Brasil houve poucos seguidores do Orfismo e Santo Souza está entre esses seguidores.

A primeira obra de Santo Souza, Cidade Subterrânea, lançada no ano de 1953, fora muito bem recebida por um grande crítico literário da época, Luís da Câmara Cascudo, que inclusive, produziu o seu prefácio.

Durante o Regime Militar a obra Pássaro de Pedra e Sono fora censurada e o livro Decreto Lei Nº 13 que haveria um lançamento na Bahia, não pode ser publicado por conter ideias subversivas.

A obra Ode Órfica lançada em 1956, quarto livro do autor, é considerada a principal, e Deus Ensanguentado, lançada em 2008 houve versão em espanhol.

A grande importância desse poeta que não pode ser esquecido deu ao município de Riachuelo uma escola que leva o seu nome chamada Escola Municipal Santo Souza.

O poeta órfico sergipano foi integrante da maçonaria e recebeu inúmeras condecorações e premiações pelo Estado de Sergipe. Em dezembro de 1995 foi premiado com o Grande Prêmio de Crítica pela APCA (Associação Paulista de Críticos e Arte).

No fim da sua vida, após ter perdido a esposa, suas atividades artísticas foram encerradas, dedicando-se, exclusivamente, à sua família, à leitura de jornais, livros e revistas.

Santo Souza teve contato direto com os poetas brasileiros Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade. Foi membro da Academia Sergipana de Letras, ocupando a cadeira de número 03, e também membro efetivo da Associação Sergipana de Imprensa, bem como Membro Correspondente da Academia Paulista de Letras. Faleceu de câncer de pulmão em sua residência no dia 18 de abril de 2014, enquanto dormia.

 

OBRAS PUBLICADAS:

 

Cidade Subterrânea (1953) 

Caderno de Elegias (1954) 

Relíquias (1955) 

Ode Órfica (1956) 

Pássaro de Pedra e Sono (1964) 

Oito Poemas Densos (1964) 

Concerto e Arquitetura (1974) 

Pentáculo do Medo (1980) 

A Ode e o Medo (1988) 

Obra Escolhida (1989) 

Âncoras de Arco (1994) 

A Construção do Espanto (1998) 

Rosa de Fogo e Lágrima (2004) 

Réquiem para Orféu (2005) 

Deus Ensanguentado (2008) 

Crepúsculo de Esplendores (2010)

 

ALGUNS POEMAS:

 

Pescadores, camponeses, mineiros e tecelãs

(condutores de cansaço, desespero e madrugadas);

e operários – doadores de força, vida, agonia e suor para o cimento das soberbas construções, depois de muito lutar, depois de muito sofrer;

 

Considerando que a terra,

na magia de seus atos

transforma em frutos e seiva

o sangue vivo dos homens;

 

Considerando que o vento,

pastor das ondas do mar,

e de todos os que lutam

se quiserem respirar;

 

Considerando que os rios

(o mundo livre dos peixes)

são de todos que têm sede

nesta dura escravidão;

 

Considerando que a noite

(a semeadora de estrelas)

é de todos que semeiam

sementes e construções;

 

Considerando, por fim,

que a lei diz textualmente

no artigo primeiro e único:

“quem não trabalha não come”.

 

Revestidos dos poderes

que lhe confere a Lei 13,

De maio de qualquer tempo,

aprovada pelo povo

em assembleia,

 

Decretam:

 

Art. 1º - Fica abolida a miséria

nos lares todos do mundo

e os frutos vindos da terra

serão para os que têm fome.

 

Art. 2º - Os ventos serão mantidos

à altura das mãos humanas,

como símbolos maduros

da liberdade dos homens.

 

Art. 3º - Os rios serão o espelho

que há de sempre refletir

as cores arco-irisadas

da total felicidade

 

Art. 4º - As noites serão o ventre

na imensa fecundação

da luz mansa do futuro,

da redenção dos que sofrem.

 

§ único - Para sossego geral

hoje serão fuzilados

miséria, fome, opressão.

fabricadores de guerra,

empresários da desordem,

pilotos negros da morte

destruindo gerações,

ódio, trustes, latifúndio

- tudo e todos que ora vivem

 

Sugando as forças do mundo

Bebendo o sangue do mundo

 

REFERÊNCIAS: 

HOMENAGEM AO POETA SANTO SOUZA, MORTO NA SEXTA. Por: Rangel Alves da Costa. Disponível em: <http://www.jornaldodiase.com.br/noticias_ler.php?id=10411>. Acesso em 09 de jan. de 2015.

Santo Souza (1919-2014) - Deuses Ensanguentados por Orfeu. Disponível em: <http://www.proparnaiba.com/node/44300>. Acesso em 09 de jan. de 2015.

SANTO SOUZA: Um poeta órfico em Sergipe. Disponível em: <http://literaturasergipana.blogspot.com.br/2013/10/santo-souza-um-poeta-orfico-em-sergipe.html> Acesso em: 09 de jan. de 2015.

Santo Souza. Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Santo_Souza>. Acesso em: 09 de jan. de 2015.

4 Comentários

  1. Seus poemas toca-me profundamente a alma.Faz uma leitura da complexidade dos seres no mundo com simplicidade que só é encontrada em escritores com extrema sensibilidade.

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  2. Respostas
    1. Obras clássicas da literatura sergipana são encontradas apenas em sebos ou na Biblioteca Epifânio Dória. Foi exatamente por causa dessa escassez que este blog foi criado.

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