(Ranulfo Prata, escritor
brasileiro)
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INTRODUÇÃO
O Escopo deste trabalho tem o Intuito de revelar a todos um escritor Sergipano, que fora esquecido pelo tempo, tratando de pontos da sua vida e obra, o que autores falaram sobre ele, a importância e influencias que o Dr. Ranulfo Prata trouxe para nossa cultura.
As obras de prata relatam a vida do povo sofrido do nordeste, como também as injustiças e adversidades que passam para conseguirem sobreviver.
Apesar de inteligente com uma brilhante forma de escrever, Prata não era chegado os meios sociais por onde conviviam os demais escritores do início do século XX, essa ausência talvez tenha custando-lhe um enfoque maior na história literária Brasileira, deixando de ser um dos grandes autores da nossa literatura.
Um dos Aspectos que nos deixa à desejar é a falta de informações contemporâneas, a cerca de Ranulfo Prata esquecidos por grandes críticos literários atuais como, Antônio Candido, Afrânio Coutinho, Massaud Moises, Sergius Gonzaga entres outros, esperamos que nosso trabalho, seja um meio de acesso ou pelo menos de conhecimento desse grande autor sergipano.
BIOGRAFIA
Aos quatro do mês de Maio, de 1896, nasceu em Lagarto, Sergipe, Ranulfo Hora Prata. Iniciou o Curso de medicina em salvador e concluiu no Rio de Janeiro em 1919. Clinicou em algumas cidades do interior de São Paulo e Minas, até fixar-se em Santos onde dirigiu o Centro de Radiológia da Santa Casa e Beneficência Portuguesa em Santos.
Na Cidade de Santos tem contato com a vida dos migrantes trabalhadores, tema para seu principal livro, Navios Iluminados, o qual abordaremos posteriormente. Ainda estudante de medicina recebeu na Bahia, seu primeiro prêmio do concurso de contos d’Atarde, em 1916 com seu conto O Tropeiro incluído mais tarde na coletânea A longa estrada (1925), contos; em 1918 lança seu primeiro livro o Triunfo, publicou também, Dentro da vida 1922, Novela; O lírio na torrente (1926), Romance; Lampião (1934), Documentário; Segundo relatos este foi lido pelo próprio Lampião, que jurou matar o autor; e por último, Navios Iluminados 1937 romance.
Em vida teve alguns amigos dentre eles Jackson de Figueiredo e o escritor
de Triste fim de Policarpo Quaresma,
Lima Barreto, ao qual tentou livrar-lhe do vicio do álcool, e o fez por um
tempo até Lima receber um convite para uma conferência Literária em Rio Preto,
o escritor entrou em um boteco e voltou a beber. Os dois conheceram-se no
hospital do exército quando o escritor sergipano passara alguns meses de
recuperação, Prata levou para Lima Barreto um exemplar de estreia do seu livro O Triunfo. Em depoimento do próprio
Prata, ele narrou a Silveira Peixoto o início da sua amizade:
Lima Barreto elogiou o livrinho e foi vistar-me no
Hospital do Exercito, onde eu era interno. A visita desse mulato genial deu-me
grande alegria. Sentados no banco do jardim, o Lima meio tocado, como sempre,
mas perfeitamente lucido, claro, brilhante mesmo, queria saber com segurança,
se a Angelina era realmente bonita com eu pintaria. Todos os ficcionistas
dizia-me ele, com ironia, têm a mania de fazer belas as raparigas das cidades
pequenas. Nos lugarejos por onde andara nunca vira nenhuma...Eram todas feias,
grosseira, desalinhadas...e eu garanti que a minha Angelina era positivamente,
encantadora, capaz de virar cabeças sólidas de gente de grandes cidades. (Apud
Carvalho Neto 1972)
Comprova-se essa amizade através de várias cartas trocadas entre os escritores, onde apresenta em uma delas o convite de Prata a Lima Barreto para passar uns dias com ele em Mirassol (local onde Ranufo conhecera sua esposa Maria da Glória, casou-se e teve um filho) a fim de curar Barreto do Vício do Álcool. Esse período foi de grande valia a Prata, pois foi-lhe dado várias dicas de técnicas narrativas, principalmente de observação do ambiente a sua volta, fator determinante para a mudança de Prata para cidade de Santos, onde serviu como pano de fundo para a criação de Navios Iluminados, como publicado em carta datada em 14 de janeiro de 1921 Apud Carvalho Neto: “Pudesse eu tornar-me um seu discípulo e fazer mesmo aqui! Infelizmente, porém, nada posso fazer no interior, num ambiente que asfixia e mata”.
Após esse período Prata fixa residência no Rio de janeiro passa pouco
tempo por lá, volta a Sergipe onde dá aula no colégio Ateneu Sergipense,
organiza em Aracaju um gabinete Radiológico, volta ao Rio, sabe da vaga na
Santa Casa de Santos como médico radiologista, vai assume o posto e permanece
lá até o fim da vida, faleceu em Santos no dia 24 de dezembro de 1942.
FORTUNA LITERÁRIA
Os livros citados a cima contam um pouco da própria vida de Ranulfo, pois se percebe as influências pelas quais o médico vivenciou, Nordestino, interiorano, tornou-se Doutor, fez carreira pelo interior até chegar a uma grande cidade, pode comprovar que não existe miséria só na seca do nordeste, como também na cidade grande.
Abaixo, veremos alguns aspectos críticos e sugestões das quais passaram as obras de Prata, esses relatos foram apresentados em diversos momentos, por críticos e ou jornais da época, eles foram catalogados por Paulo de Carvalho onde o mesmo apresentara uma organização por obra e grau de importância.
Em o Triunfo, Romance de estreia de Prata, Lima Barreto fez uma crítica ao livro, como se sabe, o escritor gostava de fazer críticas, sobre os livros que lera, e com Ranulfo não foi diferente: “O Senhor Ranulfo Prata teve a bondade e a gentileza de me oferecer um exemplar de seu livro de estreia O Triunfo. Eu o li com interesse e o cuidado de todos os livros de moços que me caem nas mãos, pois não quero que um só talento me passe despercebido”. (BARRETO, 1956 d, p. 126-7)
O Livro, Lampião, de Ranulfo Prata, é considerado o primeiro documento sobre esse personagem, que ajudou a criar a identidade do povo nordestino, o autor contemporâneo do bandoleiro vivenciou às histórias que impregnou o sertão nordestino considerado por uns, herói e por outros, bandido, nele o autor tenta fazer um retrato dessas histórias narrando passagens de Virgulo Ferreira por cidades e os comentários da população ao saber que este estava por perto, e os meios de arrecadar fundos para manter o grupo. Algumas dessas histórias foram narradas nesse livro, conforme o portal do cangaço.
No livro Navios Iluminados é narrada a história de um migrante nordestino do interior da Bahia para Santos-SP, onde labora como estivador no cais do porto para sobreviver, realizando atividades quase que inimagináveis para o corpo humano.
A narrativa trás um caráter naturalista no estilo Émile Zola, onde o homem é fruto do meio social em que vive. Esses aspectos junto com a realidade trás para o livro, o meio que vive a população trabalhadora Brasileira no início do século XX, onde os cortiços, sem instalações sanitárias são as principais referências dessas habitações subumanas.
LITERATURA PROLETÁRIA
Por volta dos anos 30 do século XX, surgiu no Brasil um novo movimento da literatura realista chamado regionalista, onde abordava-se elementos factuais e sinalizava para realidades regionais, esse movimento trouxe uma nova perspectiva para nossa literatura, surgiu daí grandes nomes como José Lins do Rego, Guimarães Rosa, Jorge Amado, entre outros.
Estes autores buscaram relatar uma literatura, onde os personagens geralmente apresentam a singularidades de um povo pobre e oprimido, eles buscavam fugir dos padrões Modernistas, fazendo com que o retrato fiel dos fatos fosse mais importante que os próprios personagens.
O Romance proletário faz as observações baseando nos operários mostrando a miséria Urbano-industrial, dois autores foram felizes ao escreverem seus romances Os Corumbas de Armando Fontes Santista erradicado em Sergipe, narra a história de uma família que trabalha nas dificuldades das indústrias têxteis Sergipanas e Navios Iluminados de Ranulfo Prata, sergipano que fez do porto de Santos e as mazelas de seus trabalhadores inspiração para seu Romance.
Nesse período o Brasil estava em ascensão da revolução Industrial, diversos imigrantes estrangeiros desembarcavam aqui vislumbrando uma vida melhor, submeteram-se aos trabalhos subumanos nas indústrias, crescia o movimento comunista baseados nas ideias de Marx e Engels, surgiram os primeiros sindicatos, que lutavam a favor dos operários, e esse cenário foi repleto de lutas pelas quais muitos trabalhadores foram mortos defendendo seus direitos.
O autor de Navios Iluminados
também não deixou de esse gargalo das docas passar desapercebido, as lutas
sindicais foram apresentadas através do personagem Valentim amigo de Severino.
“Valentim era a figura
popular entre os operários moços, não só da Companhia, como de toda a cidade,
da Inglesa, da City, das fábricas, dos moinhos. Fora aluno destacado do grupo
escolar da Companhia. Sabia na ponta da língua tudo quanto era regulamento, e
lei trabalhista. Possuía no quarto duas estantes pejadas de brochura e caixas
de sapatos entupidas de retalhos de jornal. Gostava de discutir ,de explicar,
de orientar, sendo figura de proa no sindicato de trabalhadores da Companhia.
Rara era a sessão em que não pedia a palavra e discorria bem, encarando o auditório
com firmeza ,como a querer fasciná-lo. Criou fama de sábio... O seu nome subira
a serra a chegou a São Paulo, onde também fizera amigos no meio operário do
Brás, em cujos sindicatos já discursara em sessões agitadas” (NI, pág. 52, 53).
Nas duas obras pode-se observar que as dificuldades sofridas pelos seus personagens fez-se salientar que os trabalhadores passavam por diversas adversidades, levando ao esgotamento físico, vários adoeceram devido à falta de condições de trabalho, levando-os a morte.
Como médico radiologista Ranulfo atendera muitos desses trabalhadores, usando o seu conhecimento de médico para observar a vida deles, como podemos observar nas páginas do próprio, Navios Iluminados.
À
tarde, compareceu à consulta dos doentes do peito. A vasta sala transbordava de
homens, mulheres e crianças. Não quis acreditar que todo aquele povo de
modéstia tão ruim e perigosa. No meio dele, viu muitos conhecidos até o
cassiano, da sua turma, que lhe disse, jovial:
- Que
e isto, José por aqui também “chumbeado”?
Severino
veio para perto dele, perguntando admirado:
-
Você támbem é doente?
-
Como todo esse pessoal que você está vendo, Vai pra mais de três anos. Toda
semana venho aqui tomar injeção. Estou secando um pulmão.
[...]
Severino,
passando os olhos pela sala, notou, admirado, que, a maioria tinha aspecto de
boa saúde. Na sua terra quem sofria daquela moléstia (era tão raro!) afinava
como palito, e o povo todo fugia do padecente como se fosse beixigoso.
Felizmente, o pobre pouco durava, se acabando em três tempos. Ali, pelo que
via, as coisas não se passavam do mesmo modo, o mal acatava muita gente que não
fazia caso, vivendo-a misturada com os sãos, trabalhando e até contente como o
Cassiano. (NI p. 151)
O início do século XX foi marcado com uma infestação de turbeculose, até então sem cura, e essa doença serviu de elementos narrativos em muitos Romances dessa época, o ambiente operário era propício para o alastramento dessa doença. A vivência de Ranulfo, atendendo trabalhadores, fez do escritor quase um personagem do próprio romance como se ele tivesse presente nas páginas desse livro, ao atender doentes, o médico pode ouvir muitas das histórias que aconteceu nas docas de Santos, e possivelmente alguns desses personagens foi paciente de Prata.
CONCLUSÃO
Embora pouco comenta-se sobre esse autor, Ranulfo trouxe para a literatura sua contribuição, suas obras apesar de desconhecidas, tem um traço próprio de narrativa desde a sua obra inaugural ainda como estudante de medicina.
Esperamos que esse trabalho sirva de ponta pé inicial para que esse sergipano torne-se conhecido por seus conterrâneos e por estudantes de letras, sua contribuição não só prenda-se ao olhar bairrista, por ser sergipano e sim pela contribuição a literatura.
A obra Navios Iluminados, tem a importância não só como romance literário, mas, como um retrato histórico da cidade de Santos principal entrada e saída de mercadorias e imigrantes em nosso país. O porto serviu para construção, e formação não só da Região sudeste Como Também do Brasil.
Ranulfo faz de seus livros, verdadeiros objetos de pesquisa, pois as páginas são recheadas de passagens históricas do nosso país, relatando, os locais, as pessoas como também as personagens folclóricas, todas essas apresentações faz do Doutor prata não somente um escritor como também pesquisador.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FERNANDES, Rosa Maria valente. Retratos do porto de Santos. São Paulo: Uniesp. 2012. Disponível em: http://www.uniesp.edu.br/tema/tema60/08rosaMariaValenteFernandes.pdf. Acesso em 15 de mai. 2013.
NETO, Paulo Carvalho. Um lugar para Ranulfo Prata. Disponível em: http://143.107.31.231/Acervo_Imagens/Revista/REV012/Media/REV12-11.pdf. Acesso em 15 de mai. 2013.
PEREIRA, Alessandro Alberto Atanes. História da literatura no Porto de Santos: O Romance de identidade portuária “Navios Iluminados”. São Paulo: USP, 2008.
Tese (Mestrado) – Departamento de História, Universidade de São Paulo, 2008. Disponível em: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0335b18.htm. Acesso em 15 de Mai. 2013.
Fontes eletrônicas:
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/lima-barreto/o-triunfo.php
http://portaldocangaco.blogspot.com.br/2011_12_01_archive.html
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¹ Este texto é parte integrante do trabalho apresentado por Anali Conceição do Nascimento, Celle Reginy Souza de Oliveira, Gracielle Pinto do Nascimento, Isabel Cristina dos Santos Gois, Marianne dos Santos, Wagner Oliveira de Almeida, Walter Ferreira da Silva do Curso de Letras-Português da Faculdade São Luís de França, como requisito para avaliação da disciplina Optativa I – História da Literatura Sergipana, ministrada pelo Prof. José Costa Almeida.
Li NAVIOS ILUMINADOS. OBRA-PRIMA! GOSTOSO DE LER, COM PASSAGENS TOCANTES, PRINCIPALMENTE A DA MORYE DO JOSÉ. GRANDE ESCRITOR! O RANULFO MERECE UM ESPAÇO MUITO MAIOR DO QUE OCUPA NO CENÁRIO DA LITERATURA NACIONAL.
ResponderExcluirSem dúvida, Anngelo Garcia.
ExcluirVim até Ranulpho Prata via as capas de Santa Rosa. Muito elucidativo o seu texto: aprendi sobre um escritor que era somente um nome em uma capa de livro esquecido no passado. Parabéns pelo trabalho e parabéns ao Prof. José Costa Almeida pela importantíssima disciplina, que foge ao lugar comum das disciplinas de literatura. Deveria ser disciplina obrigatória em Sergipe!
ResponderExcluirMuito obrigado pelo elogio, Paulo Gomes. O presente texto foi um trabalho de colegas da faculdade. E o Prof. José Costa Almeida é um grande conhecedor do assunto. Fui aluno dele e aprendi muito com ele. Quanto ao fato da Literatura Sergipana se tornar uma disciplina do Estado, eu também defendo essa ideia para importantes autores não serem esquecidos pelo tempo. Grande abraço!
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