Crônica “Atravessando a rua”, de Allan de Oliveira¹

 

Por: Allan de Oliveira.

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Lá ia ele, perambulando por aquela rua onde sua casa era localizada. Ele era um jovem de estatura baixa e franzino. Naquele dia estava com a sua garrafa de cachaça debaixo do braço, levando-a com grande satisfação, e no seu rosto estava estampado o sorriso de um indivíduo deveras embriagado. Acabara de esvaziar duas garrafas da bebida e agora estava prestes a esvaziar mais uma. Andava cambaleando de um lado a outro, se batendo nas paredes das casas e nas pessoas, cantarolando em harmonias sem nexo suas canções das quais, ninguém nada entedia e até detestavam aquela voz chata e irritante. Em sua mente continha apenas uma imagem. A imagem daquela que roubou o seu coração, a mulher mais formosa e encantadora que ele já tinha visto, a beldade daquela rua, a senhorita CH... 

Pobre rapaz. Tanto o que os seus pais fizeram para ajudá-lo, tanto o que eles haviam gasto para ele ser alguém na vida e agora sua vida estava toda perdida, evaporando-se completamente na cachaça. 

Ele quase nem sentia o dia passar. A cachaça não deixava! Mas, para ele, ajudava, passando todo o seu tempo nas praças e nas calçadas das esquinas com aquele bando de “pés-inchados”. E quando não tinham mais dinheiro, eles pediam uns trocados para os pedestres e, assim, fazerem renascer novamente aquelas garrafas tão desejadas. 

Seguindo o seu caminho na calçada, ele a viu. O coração dele pulsou forte, e ela, a senhorita CH..., nem aí para ele. Ela iria se casar com o filho de um rico empresário. Que angústia o rapaz sentia! Mas também, qual mulher queria um cachaceiro? Sem dinheiro, sem futuro, mal vestido, João Ninguém. Ele tinha de reconhecer: a realidade é dura para os desprivilegiados. 

Ao passar pela rua, a senhorita CH... atraia olhares de homens que assobiavam e pronunciavam palavras de elogios baratos e cantadas mal cantadas, enquanto aquele pobre rapaz com sua tristeza estampada no rosto, observava-a, acompanhando-a com seu olhar embriagado, enquanto atravessava a rua olhando as nádegas empinadas de um corpo esbelto. 

De repente... 

...Pan! Pan! Pan! Pum! 

... Fora atropelado. 

Agora o centro das atenções já não mais era a senhorita CH..., mas aquele indivíduo embriagado que acabara de perder a vida ao ter sido atropelado naquele dia azarado e ensolarado.

 

Aracaju, 2006

Por: Allan de Oliveira.

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¹ Nota: o presente conto faz parte do livro “Histórias aceitas por ninguém”, de Allan de Oliveira que você, leitor, poderá adquirir em alguns dos links logo abaixo:

 

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