Como poderia eu aprisionar o tempo
Ou determinar o ser de alguma forma,
ou a forma de algum ser?
Se eu mesmo em minha instabilidade
Já não sou mais o que pensara antes.
Acordo e já não sou!
Nem corpo, nem mente.
Nada mais que a voz que fala em mim.
Que ecoa em mim, eco entre paredes.
Pensamentos presos em uma caixa de
ossos.
Vão-se até sumir!
Então novamente vem o indizível
e reaparece do nada movido por não
sei o que.
Tanta gente dentro da gente
No entanto estou só!
Vazio, oco, oco no cântaro
e a cinza fria que antes existira já
não é!
É soprada para fresta do tempo,
esse espectro que inexiste,
O esquecimento. E a memória já não
vem.
Tento retê-la, ancorá-la a imagem
como noção de existência.
Faço por medo de me perder.
Tenho um passado?
Quero existir, fixar a mim mesmo
mas existo antes, e já não sou.
Então... passo continuum!
E já fui engolido novamente
Já não sou, nem serei
Nem passado, nem passagem
Cronos a engolir, a me devorar.
As imagens que pincei?
Devoradas, perdidas!
Nada mais que estática e ausência.
Nisso a tentativa desesperada
de alcançar um horizonte cada vez
mais distante
e a angustia a observar o absurdo de
cada construção humana. A mim, a
todos!
Cada corpo, um emblema
cada gesto, um símbolo
cada pessoa multiplicada um hábito
cada simulacro um limite
cada caricatura uma intenção
cada persona, uma composição
cada retalho de gente uma incerteza.
E do desespero, cada espantalho que
pensa ser.
Então... deslocado de alguma coisa
que penso me conter, e que a toda
hora me ultrapassa
vejo que o corpo já não me suporta.
Me subtraio ao avesso.
Canta a ode na utopia do EU
e dança sobre mim a múltipla existência
e dança Dionísio sobre o túmulo do
ocidente
e dança como num louco bacanal
Me deseja sono, e me diz...descansa
em paz!
Por: Carl R.S.